Gênese O estudo das relações internacionais tem sua origem nos primórdios da humanidade, ainda quando as comunidades tribais pré-históricas buscavam uma relação com os vizinhos mais próximos, os impérios com os povos próximos às fronteiras ou ainda a Grécia, através de suas cidades-repúblicas. Passos adiante, as Relações Internacionais resultam da própria prática do exercício do comércio, dos atos de guerra ou religiosos, se fortalecendo com os tratados e acordos firmados pela própria convivência, fazendo surgir o direito das gentes ou dos povos1. Nesta época, os aspectos que envolviam os relacionamentos entre os povos eram circunstanciais, informais e já protecionistas, uma vez que se preocupavam mais com a segurança diante de possíveis inimigos. Durante a Idade Média2 , as Relações Internacionais tomam uma nova forma com a evolução do Estado3 alcançando sua soberania e poder, pela própria influência da Igreja e seus papas sobre os príncipes da época. O século XV marca uma importante evolução pela Europa, quando a figura do Estado nacional se consolida com o início das alianças políticas, fruto das Relações Internacionais que se intensificavam. As inovações proeminentes no transcorrer do período moderno trouxe à reflexão a necessidade de incluir, no âmbito dos estudos e objetos de análise, as Relações Internacionais como ciência autônoma e independente. Entretanto, até chegar neste ponto, outros conhecimentos as antecederam, como o Direito Internacional4, a História da Diplomacia, a Diplomacia propriamente dita e a História dos Tratados. Consolidação Ao considerar a complexidade que envolve as Relações Internacionais, podemos afirmar que os fundamentos históricos e epistemológicos desta disciplina absorveram fortes influências dos conhecimentos supracitados, somados às variáveis como a filosofia, história, ciências políticas e sociais e eminentemente o primeiro conflito mundial. Daí se constatar que "a dimensão teórico-estrutural apenas veio a ser atingida quando ocorreu o alargamento do seu âmbito através do surgimento dos novos atores no cenário mundial"5. Entenda-se atores mundiais como sendo órgãos governamentais, não governamentais, Estados e pessoas que, pela sua própria contribuição em nível internacional, se transforma neste elemento que compõe as duas teorias sobre a tipologia dos atores no cenário mundial, defendidas por Marcel Merle - abordagem clássica - e R. W. Mansbach - abordagem transnacional. Enumeraríamos aqui as problemáticas e inúmeros eventos e fatos que alargaram o campo de conhecimento e desenvolvimento das Relações Internacionais como disciplina: - globalização da economia - poderio dos arsenais nucleares, - surgimento de diversos organismos internacionais - nascimento das organizações não-governamentais - constituição dos blocos econômicos - a transnacionalização das grandes empresas - a descolonização - primeira guerra mundial Ressalta-se que este último fez nascer, de forma concreta, "a disciplina como sistema de estrutura sui generis". O fim do conflito impôs aos poderes constituídos a necessidade de formalizar algum instrumento de paz internacional, fato que ocorreu junto ao Pacto da Liga das Nações6, de forma a evitar um novo e desastroso cataclismo de tal dimensão. "Assim, a guerra - vista como problema de conseqüências econômicas, políticas, sociais e psicológicas - foi causa última do grito de independência das Relações Internacionais". Marco Acadêmico e Científico A disciplina de Relações Internacionais tem sua história inaugural na Universidade de Gales, no ano de 1919, quando foi criada a Cadeira Woodrow Wilson em Relações Internacionais, logo do encerramento do primeiro conflito. A partir daí, sua institucionalização foi apenas um marco. Registrou-se no início do século as primeiras obras relacionadas às teorias das Relações Internacionais, destacando-se Paul Reinsch, em World Politics, e Arthur Greenwood e co-autores, em An Introduction to the Study of International Relations. Reino Unido e Estados Unidos abrigaram, posteriormente, inúmeras outras cátedras e institutos, dentre eles o Royal Institute of International Affairs e o Council on Foreign Relations. As décadas de 20 e 30 sinalizaram para uma abertura extremamente importante no "campo de indagações em direções diferenciadas, patenteando aportações interdisciplinares", como economia, política, sociologia, etc, impulsionando as instituições a abrirem cursos e estudos como Política Internacional, Relações Internacionais, Política Mundial, "deixando de caminhar no antigo trilho da História da Diplomacia, para percorrer seu próprio caminho, o caminho da História das Relações Internacionais". Nesta mesma década, os aspectos científicos foram se descortinando, ao estabelecer o conceito de que o "poder era a chave-mestre para explicar as Relações Internacionais e as relações dos Estados entre si". Conceitos Terminológicos e a Disciplina no Brasil Apesar de ter sido colocada sob xeque por alguns estudiosos, o termo "relações internacionais" foi amplamente aceito pela maioria, para denominar as relações entre Estados formados por uma ou mais nação. Relações interestatais, relações interculturais e relações intergovernamentais foram algumas das propostas apresentadas, porém inaceitáveis. Os termos usados neste campo diferem de acordo com o país e até mesmo com nível de abrangência que os envolvem. Na França, aceita-se "estudos internacionais", que abarcam temas relevantes como sociologia, psicologia, política, etc. Já nos EUA, cunha-se política exterior e política internacional, sendo que a primeira obedece rigorosamente o limite de relação que um Estado6 tem para com outros Estados, irrelevando a sociedade internacional. A segunda, avança para uma relação mais abrangente, digamos, relações interestatais. Portanto, o termo "Relações Internacionais" tem sido aceito nas comunidades acadêmicas internacionais, visto que dela são estratificados estudos específicos e correlatos, bem como investigações e discussões teórico-metodológicas. Por falta de convergência científica, o processo de consolidação dos estudos teóricos no campo das relações internacionais na América Latina iniciou-se tardiamente, visto que as preocupações da comunidade latina estavam voltadas para as ingerências e influências de países, como Estados Unidos, e para a dívida externa; e quando o foco das discussões era integração, dependência e ingerência, os pensamentos se diferenciavam, "ocasionando fortes dificuldades de conexão e enquadramento entre os respectivos temas" Entretanto, os programas de Relações Internacionais, apesar de recentes, se expandiu rapidamente na AL. Instituições como o Centro de Estudos Internacionais do Colégio do México e do Instituto de Estudos Internacionais da Universidade do Chile, a despeito das dificuldades financeiras e de recursos humanos enfrentados, mantém-se firmes na relação entre pesquisa e docência, confirmando a grande importância do tema nas instituições acadêmicas em nível internacional. No Brasil, a Universidade de Brasília foi pioneira na institucionalização do estudo das Relações Internacionais ao criar o primeiro Bacharelado no país, em 1974, valendo-se da privilegiada posição geográfica da instituição, que permitia acessar os acervos de bibliotecas públicas do Itamaraty, Congresso e Embaixadas; e com a colaboração de diplomatas, detentores de notório saber e domínio da área. Apesar de o Brasil não possuir tradição nas relações internacionais, o próprio avanço e maturidade ocorridos em sua estrutura política, social e econômica nos últimos anos, acompanhando a tendência mundial, impulsionaram diversas instituições a criarem cursos7 voltados para a área, hoje num total de 60 autorizados pelo MEC8. PUC, USP, UNESP, UNICAMP, UFRGS, UFSC e a própria UNB se consolidam9 , à medida em que seu corpo docente e discente avançam rumo às pesquisas voltadas para a realidade contemporânea da comunidade mundial e os aspectos sociais que as envolvem, fazendo surgir uma nova configuração teórico-prática em relações internacionais no Brasil, a partir do ambiente acadêmico. 1 Ver sobre Direito das Gentes ou dos povos. IN: ACCIOLY, Hildebrando. Manual de Direito Internacional Público:14ª ed. São Paulo: Saraiva,2000. 2 Período que se inicia no ano 200, se estendendo até a queda de Constantinopla, em 1453. 3 Ver mais sobre Estado, Nação, Estado-Nação. In: PEARSON, Frederic S.; ROCHESTER, J. Martin. International Relation: the global condition in the late twentieth century. Pg. 39 4 Até o século XIX, o Direito Internacional foi basicamente consuetudinário, ou seja, a repetição dos fatos, de natureza diferenciada e posteriormente em nível de ordenamento jurídico fazia nascer o costume internacional, aceito pelo Estado por necessidade ou porque era simplesmente justo. 5 OIT, OEA, UE, ONU, IBM, EINSTEN, etc. 6 Organização para Cooperação Internacional, fundada em 1919 e substituída, em 1946, pela ONU. 7 O manual relativo ao curso de Relações Internacionais está disponível, desde o dia 09 de agosto de 2002, no seguinte endereço eletrônico: http://www.inep.gov.br/download/ superior/2002/condicoes_ensino/ACE REL_INTERNACIONAIS. pdf. 9 Estas são as poucas instituições que oferecem curso em nível de Mestrado e Doutorado em Relações Internacionais no Brasil. REFERÊNCIAS HUNTZINGER, Jacques. Introduction aux Relations Internationales. France: Editions du Seuil, 1977. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Superior. s/d. Padrões de qualidade para os cursos de Relações Internacionais. Brasília : Ministério da Educação. http://www.mec.gov.br/sesu/ftp/padreli.doc. Acesso em : 04.11.2003. OLIVEIRA, Odete Maria de. Relações Internacionais, estudos de introdução:Curitiba: Juruá, 2001. SILVA, Mozart Fochete da. Relações econômicas internacionais. São Paulo:Aduaneiras,1999. VISENTINI, Paulo. Relações Internacionais do Brasil: de Vargas a Lula. São Paulo: Perseu Abramo, 2003. |
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segunda-feira, 1 de agosto de 2011
Relações internacionais
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